quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Texto: ...


Foi ontem. Eu lembro: era noite e eu estava caminhando pela praia. Tudo estava absolutamente normal até que algo em mim morreu num suspiro e outro alguém nasceu numa respiração profunda. Então, nada mais foi a mesma coisa: a paisagem, pessoas, meu olhar, o sentimento amoldado ao corpo, a estabilidade das emoções. Tudo se modificou naquele suspiro. E foi uma das coisas mais estranhas, diferentes que vivenciei. Hoje, ao acordar, a sensação de ontem parecia ter se arraigado e a transição totalmente feita. Fiquei assustada porque eu não reconhecia o meu rosto, as minhas roupas, a minha nova disposição para rotina e a forma como me desencantei com pessoas que eu achava absolutamente incríveis. Tive um despertar de lucidez tão intenso, que um véu se rasgara diante dos meus olhos e tudo parecia claro, mas não calmo. Foi uma morte, agora entendo. Morri para quem eu achava que era. Senti o exato instante da transformação das coisas. E como foi difícil dizer adeus, mas como foi simples me desapegar. Certas situações e pessoas, simplesmente, deixaram de fazer sentido neste ciclo novo. É como se eu ascendesse para o que há de mais primitivo. E sofisticasse esse instinto. Eu ainda estou me ajeitando nesta alma nova. Ela me parece mais límpida e transparente, sem maquiagem. Ainda não sei o que fazer com todas estas informações, mas não quero investigar nem racionalizar nada. Vou me entregar para este jorro. Quero apenas sentir. Que venha o desconhecido: eu aceito ser seu abrigo.



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