sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Escorre

Escorre-se o amor que eu sinto por você do meu coração assim como escorrem as gotas de chuva de uma janela de carro. E vai escorrendo, deslizando aos poucos por entre meus dedos enquanto eu tento ainda segurar, mas desisto. Desisto e assisto-o escorrer. E desejo que escorra mais rápido e que leve junto tudo o que me trouxe, porque se tivesse sido bom, eu não desejaria tanto esquecer. E dói tanto isso, dói mais do que a picada de abelha que levei um dia no parque quando criança. Porque ao invés de picada, eu levei foi uma surra que mutilou, estraçalhou e quebrou meu coração.
De você já não quero mais nada a não ser esquecer. Esquecer a dor que me causou, o tempo que perdi e as cascatas de lágrimas que despejei em meu pobre e único companheiro de sofrimento, o meu travesseiro.
E que escorra logo, que escorra de uma vez. Que escorra e desapareça como se nada nunca tivesse acontecido. Que o amor leve a dor consigo, porque de dor já transbordei muito e por muito tempo. Agora só busco viver uma vida que você nunca poderia me dar. Alegrias, sorrisos e risos que você não seria capaz de me proporcionar nem em uma vida toda como um dia eu desejei.

E com essas palavras, do meu coração esse amor tão cruel escorre e se vai. Se vai de mim, se vai para o fim porque não desejo guardar nenhum pouco disso que eu senti e vivi na memória. Desejo apenas deletar tudo isso como se fosse um arquivo inútil salvo no computador e que eu não quisesse mais ter, que pudesse excluir, que pudesse me livrar como desejo me livrar de tudo o que vivi com você.

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