A solidão me penetra toda vez que as portas se abrem e mais um vai embora. Mas eu sei que no final do dia todos irão. Menos ela, a solidão. Dou um sorriso, um bom dia, e ás vezes até arrisco puxar papo, mas acredite, é só encenação. Quando as portas se abrem, é como se fossem cortinas que se fecham no final de uma peça de teatro. É o momento em que tudo volta a ser como realmente é. É quando eu volto a ser quem eu sou. Minha máscara cai e eu tiro aquele maldito ar de felicidade a todo vapor que eu finjo possuir.
No
fim do dia ninguém sabe quem realmente eu sou. A minha armadura desmorona. A
confiança evapora e a vontade de simplesmente estar acordada desaparece lançando
em mim a pura insatisfação de se viver daquela maneira.
Quase
consigo ouvi-los dizer que sou uma perca de tempo, afinal, é o que todos ali
imaginam que sejamos. E talvez isso seja
o que mais me cansa e me causa indignação naquele lugar. É inacreditável a
falta de fé que as pessoas possuem em nós ou no que fazemos. E ás vezes eu me
pergunto se é realmente aquela a vida que e mereço. Nos moldes da minha mãe e
nos moldes da minha mente cheia de imaginação e sonhos, aquele nunca seria o
meu destino. O meu futuro. A minha realidade.
Se
me imaginei naquilo quando chegasse á essa idade? Ao início da minha fase
adulta? É claro que não. Me indigno e ás vezes me pergunto onde é que eu estava
com a cabeça quando resolvi me enfiar ali.
Minha
mãe me criou me fazendo acreditar que eu era inteligente e que isso me levaria
longe. Mas agora, perto deles eu me sinto tão burra e tão pequena. Eu sou só um
pontinho em uma folha em branco. Só um número dentre tantos outros. Só mais uma
funcionária dentre as cinco mil ali. Só mais uma pessoa no meio da multidão. Só
mais um ser vivo no meio do universo. Que diabos eu sou na minha vida? Ops...
Preciso ir, as portas se abriram novamente e eu preciso sorrir e dar boa tarde!